Uma nova historia

 
Página de Pesquisa da Familia Fracalossi descendentes de Giovanni Fracalossi e Giudita Tafner Fracalossi
O material para o presente trabalho foi colhido através das visitas que fiz às regiões do Estado do Espírito Santo, onde residem as pessoas integrantes da Família Fracalossi. Teria sido impossível, nesse espaço de tempo, apossar-me de tantos dados, se não tivesse encontrado pôr toda parte, a maior boa vontade. Só em poucos casos foi possível lançar mão da literatura existente sobre o destino dos imigrantes da Família Fracalossi no Espírito Santo, pois ela, em sua maior parte, diz respeito às condições gerais da imigração no Estado. Ela é constituída principalmente de publicações de pesquisadores independentes, que me foi possível utilizar graças ao advento da Internet e as publicações da Estação Capixaba.com.br de textos destes pesquisadores. A primeira edição desta pesquisa constitui o documento mais importante sobre a história da formação das famílias dos descendentes de Giovanni Fracalossi e Giudita Tafner Fracalossi. Muito dos dados, realmente de valor sobre os locais onde possivelmente encontraria descendentes, me foi passado pôr "Tio Joanin Fracalossi", pessoa de invejável memória. Os primeiros membros da Família Fracalossi, aqui pesquisados, emigraram da Itália para o Espírito Santo no final do ano de 1875, mais precisamente embarcaram no "VAPOR FÉNELON" no porto de Havre na França em novembro e aqui chegando em 25 de dezembro do ano de 1875.
 
 
AFONSO FRACALOSSI
Entrevista realizada em 18 de Abril de 2004
 
 
 
Mudamos para Guaraná em 1921, eu tinha um ano de idade. Antes meu pai morava em Ribeirão de Cima. 
Em Guaraná não tinha nada, me lembro bem que tinha a  casa de Joaquim Sanhé. Frenquentei escola por um ano, 
quase não tinha aula. O professor, um tal de Manduca Banhos, quase não vinha dar aula.
Com oito anos de idade  já trabalhava na roça. Papai ia apanhar café na roça de André Carlesso em Ribeirão de Cima 
e Eu ia a pé junto com Papai e meus irmãos Joanim e Florencio. Mas eu ia só pra ajudar fazer a comida.
Tambem apanhamos café durante dois anos, no Pedro Simoa, um nacional.
 
Fizemos este trabalho durante uns dez anos, até o café que papai plantou começar a produzir novamente. 
A familia era grande, precisava sustentar todos.
Nessa epoca estávamos trabalhando de meiero porque aconteceu um incendio em nossas terras e  queimou toda roça de café que tinhamos. 
Queimou tudo. Papai estava preparando madeira para construir um casa para nós, mas queimou tudo. 
A madeira, as duas mil tabinhas para cobrir, até as ferramentas que usavamos na roça como  facões, foices, machados...,  queimou tudo.
Naquele dia, Eduardo um compadre de papai, viu o cavalo correndo em sua direção para fugir do incencio. 
Então ele cortou a cerca e o cavalo desapareceu. O fogo começou lá pelos lados do rio e subiu queimando tudo.
 
Quando o café começou a produzir novamente, na primeira apanha, colhemos tres mil quartas de café.
Naquela época tinha fartura. Plantavamos uma quarta de feijão e colhiamos seis sacos. Plantavamos um saco de milho e a colheita enchia um paiol, tres espigas voce não segurava na mão, de tão grade que eram.
 
O milho que colhíamos era usado para nos alimentar e alimentava tambem os porcos, as galinhas. Só comiamos polenta. Era seis quartas de fubá por semana. Quase uma quarta de fubá por dia. Eu ia para o moinho e levava no lombo do cavalo um saco de milho cada vez.
Papai tinha um tachão de cobre pendurado na corrente. Virava aquele polentão em cima de uma tábua. Tinhamos uma mesa de  uns tres metros de comprimento. Sentavamos todos a mesa. Metia a linha para cortar a polenta, derrubava um paredão de polenta no prato. João Lalau (João Alvarenga era casado com Idalia Fracalossi, irmã de Afonso) quase morria de tanto comer.
 
Abril era o mês de plantar milho e  feijão. Papai reunia todos e falava:
- Amanhã vamos roçar aquela capoeira para plantar feijão.
Todos amolavam as foices, facão e deixavam tudo preparado. No outro dia, roçavamos tudo. deixava secar, passava fogo e plantava.
Uma vez, fomos preparar um terreno para plantar milho, perto de um quitungo velho (local onde se fazia farinha), foi num dia de São Sebastião. Perto do quitungo, onde jogávamos os restos de casca de mandioca tinha uma tronco de sapucava grossa derrubada. Debaixo dela tinha cada cobra jararaca de mais de metro. Contando assim pode não acreditar,  eu tinha uns dez anos, mas pode perguntar a Joanim se é mentira. As cobras ficavam ai porque tinha muito rato que se alimentavam tambem dos restos de mandioca, as sobras de quando faziamos farinha.  Joanim  voltou em casa pegou a espingarda. Matamos oito.  Cada uma maior que a outra. Tambem nem trabalhamos. Joanim falou assim:
- Vamos embora!
Botamos as inchadas nas costas e voltamos prá casa e contamos para papai, então ele falou:
- Viu não falei prá voces não irem trabalhar no dia dia de São Sebastião!
Nessa plantação deu cada um pé de milho que fazia gosto ver.
 
Meu pai era dono de muitas terras em Guaraná. Montou  um armazém onde vendia de tudo. Muitas vezes as pessoas compravam e depois de um tempo não podiam pagar, então pagavam a divida com um pedaço de terra.
O terreno do meu Pai ia desde da entrada de Aracruz até la perto da ponte de Guaraná.
 
Do outro lado do rio, perto da curva, papai trocou um dívida por um terreno, depois queria dar o terreno para meu tio Fioravante Frinhani, casado com tia Angelina Fracalossi, irmã de papai. Tio Fioravante não aceitou por que segundo ele, o rio enchia muito na época das chuvas e ele não poderia passar para o outro lado do rio onde havia o comércio em Guaraná.
Papai tambem foi o maior comprador de café das rendondezas de Guaraná.
 
Sou da classe de 20, quer dizer nasci em 1920. Minha convocação para servir ao Exército Brasileiro chegou por carta em 1941, tinha 21 anos. Todos eram obrigados a se apresentarem ao exercito, se não fosse, o exercito vinha buscar e corria o risco de ser preso.
Me apresentei no Trigésimo Oitavo Batalhão de Infantaria (38ð BI), em Vila Velha. No dia da apresentação fomos eu e José Pessotti, háviamos sido criados juntos.
Fiquei na casa de vovô Rizzo.
Na época ele tinha tres prédios ali Goiabeiras, em frente a Ufes onde tem uma pedreira, uns pés de manga. Os prédios eram todos alugados. Tinha muito dinheiro guardado em casa. Guardava o dinheiro escondido na parte de cima do sobrado, embaixo de monte de tábuas.
 
Um fato interessante que aconteceu foi que durante o a guerra a policia fez uma busca na casa de vovô Rizzo porque eles achavam que ele era  da QUINTA COLUNA. Assim eram chamados os aliados de Hitler e Mussolini na guerra e assim também ficaram conhecidos os imigrantes perseguidos durante a grande guerra.
Os soldados chegaram na casa de vovo Rizzo, reviraram tudo. Descobriram o dinheiro que ele tinha guardao em casa.
Levaram todo o dinheiro. Até a linguiça, a carne de porco, que era de costume guardar em latas de banha eles levaram. Bateram muito nele.  Ele era paralítico, não podia andar. Depois o arrastarm até o canal da ponte da  passagem e queriam joga-lo na água, mas um dos soldados disse:
- Pra que jogar este velho na agua, ele não vai aguentar mesmo, vamos deixa-lo aqui mesmo.
Largaram o velho lá e foram embora.
Vovô ficou um tempo internado. Depois de recuperado voltou pra casa mas não estava satisfeito com a situação. Vendeu tudo que possuia por seis contos de réis e foi morar com papai em Guaraná.
 
O Levante Integralista ( 1938) Quando Getúlio Vargas decretou o Estado Novo (Ditadura de 1937 a 1945) e fechou os partidos políticos e agremiações, a Ação Integralista Brasileira se rebelou e tentou tomar o poder.
Após o fracasso do "Putsch" Integralista do Rio de Janeiro, Getúlio Vargas iniciou uma repressão violenta. Membros desse grupo ou meros simpatizantes foram considerados "Inimigos da Pátria". A Política de tolerancia zero compreendeu as seguintes medidas:
- Afastamento dos prefeitos que seguiam essa ideologia;
- Proibição do uso da língua italiana e alemã;
- Fechamento das sedes da AIB;
- Invasão de residencias para confisco de uniformes (que foram muitas vezes queimados na rua);
- Prisão de dirigentes e apreesão de armas;
- Intervenção nas escolas, com afastamento de professores (11 foram fechadas em todo Estado)
 
Getúlio Vargas chegou a dizer que " as colonias eram guetos raciais e étnicos, por onde idéias perigosas chegavam ao Brasil".
Quando o Brasil entrou na Segunda Guerra Mundial, a situação piorou. A Intolerancia ganhou as ruas, pois o DIP ( Departamento de Imprensa e Propaganda) e o seu braço estadual ( o DEIP) começaram intensa campanha de estímulo às manifestações populares contra o Eixo. A radicalização tomou conta dos corações e mentes. Qualquer italiano ou alemão na rua era visto como facista/nazista em potencial. Saques sacudiram Vitória e fábrica de Chocolates Garoto só não foi saqueada porque seu proprietário havia pedido intervenção policial.
Não se sabe o número extado, mas muitos alemães foram levados para onde se situa hoje, o Hspital das Clínicas. Ficaram confinados durante seis meses. Depois foram liberados. Os que tinham imóveis, alugaram para o seu sustento, os que não tinham, ficaram na miséria. Alguns foram para Maruípe, onde fundaram o bairro. Depois do quebra-quebra, veio o decreto determinando que as propriedades dos "Quinta Colunas" (Expressaõ pelo qual ficaram conhecidos os imigrantes perseguidos), passariam para o Estado como forma de indenização pelos ataques alemães aos navios brasileiros.
O Filme "Incendio das Mentes" relembra o terror vivido pelos pomeranos de Lagoa, Serra Pelada, distrito de Afonso Claudio. Pastoresforam perseguidos, presos e alguns deportados. Muitos alemães se esconderam na floresta para não serem aprisionados. Diversas casas foram metralhadas e até as lápides de alemães no cemitérioo foram quebradas. Bombas foram jogadas em casas de italianaos e alemães.
 
Continua...
 
(História e Geografia do Espirito Santo - Adriano Perrone e Thais Helena Leite Moreira)
 
 
A origem da Vila do Riacho
 
 

A origem da Vila do Riacho se situa em 1800, quando foi instalado um quartel na confluência dos Rio Riacho e Comboios, pelo Capitão-mor Antônio Pires da Silva. Como outro quartel às margens de outros rios do Brasil de então o Quartel de Riacho serviu para repelir os ataques dos índios botocudos a viajantes, índios civilizados, comboios e boiadas que tinham que passar por ali. Para os botocudos, o local era uma espécie de sentinela avançada de seu território do interior e norte do Espírito Santo, Minas Gerais e sul da Bahia.

Menos de uma década depois, Quartel de Riacho já mostrava um franco crescimento, pois sua guarnição tinha sido reforçada em função da carta régia de declaração de guerra aos botocudos O documento saiu em 1808, logo que a família do príncipe regente de Portugal, Dom João VI, veio para o Brasil, fugindo da perseguição do imperador da França, Napoleão Bonaparte.

Quartel de Riacho foi visitado pelo príncipe alemão Neuwied em 1815 e pelo botânico francês Auguste de Saint-Hilaire em 1818, que atestaram que ainda era forte a presença militar. Mas, por volta de 1828, o local já era conhecido nas redondezas como Campos do Riacho.

As terras férteis de Campos do Riacho atraíram muitos fazendeiros e a migração aumentou mais ainda quando a região passou a pertencer ao município de Santa Cruz (Aracruz a partir de 1943), criado em 3/4/1848. Italianos recém-chegados de seu país começaram a aparecer por volta de 1874.

 

Progresso

 

Em 1858, foi criada a primeira escola, pela Lei Provincial (equivalente às leis estaduais de hoje) nº 321. Em 1864, outra Lei Provincial, de nº 25, criou a freguesia de São Benedito do Riacho. A igreja, ainda existente, seria construída pouco depois.

Um levantamento feito em 1876 mostrou que Campos de Riacho já registrava 1.003 moradores, 6,5 % dos quais eram negros escravos. Também mostrou 179 alunos freqüentando a escola e um índice de alfabetização (11,7% da população) quase duas vezes maior que o da sede do município, Santa Cruz (6,4%).

A comparação entre os dois povoados é levada ainda mais adiante pelo historiador barrense José Maria Coutinho: “O crescimento de Campos do Riacho nos 76 anos após sua fundação era maior do que o de Santa Cruz experimentara nos três primeiros séculos de sua existência. A maioria dos trabalhadores de Riacho estava na agricultura do açúcar, milho, feijão, mandioca, etc., enquanto que o número de criadores de gado quase suplantava o de Santa Cruz. Os engenhos fabricavam açúcar, aguardente, rapadura e mel. O comércio dos mais diversos gêneros era ativo. Havia cerca de 508 casas em Santa Cruz e 136 em Riacho.”

Em 25/1/1891, foi criado o Município de Riacho, com sede em Campos do Riacho, abrangendo os territórios dos Distritos de Riacho e Ribeirão da Linha (hoje Distritos de Guaraná e Jacupemba). Mas o município só durou até 16/5/1931, quando foi reintegrado ao de Santa Cruz.

Dentro do que se pôde apurar, consta que o último prefeito do município foi Philareto Carlos Loureiro e que seu antecessor, de 14/4/26 a 2/5/30, foi Dalmácio Coutinho. As duas últimas Câmaras Municipais foram:

 

1924-1927

Antônio de Mattos Pimentel

Antônio Nunes Gonçalves

Ernesto Rosário do Nascimento

Herculano dos Santos Leal

Joaquim Ribeiro Pinto Machado

 

1928-1931

Belmiro Manoel de Carvalho

Ernesto Rosário do Nascimento

Herculano dos Santos Leal

Joaquim Ribeiro Pinto Machado

Philareto Carlos Loureiro

 

Decadência

 

Pelo menos três fatores foram decisivos para o enfraquecimento de Vila do Riacho (atual nome de Campos do Riacho): o crescimento do povoado que ficaria conhecido como Barra do Riacho, cerca de 11 quilômetros ao sul, na foz do Rio Riacho; o desenvolvimento da atividade agropecuária no noroeste do município, destacando-se Guaraná e Jacupemba; a transferência da sede municipal de Santa Cruz para o povoado de Sauaçu, regulamentada em 1948 e concretizada em 1950 (o município mudou de nome para Aracruz em, 1943).

Pela década de 50, segundo José Maria Coutinho, a orla litorânea – não só Vila do Riacho, como se vê – pouco a pouco foi abandonado pelos administradores municipais, entrando assim em decadência, enquanto o interior progredia.

“O progresso das Vilas de Aracruz, Guaraná e Jacupemba tornou-as mais importantes que as do Riacho, Barra do Riacho e Santa Cruz, ultrapassando sua arrecadação e produção econômica, com o café, o gado e o leite, principalmente. E uma estrada (a BR 101) as colocava no meio do caminho entre o sul e o norte do país”, detalha Coutinho, para completar: “Só com a chegada da Aracruz Celulose (a construção da fábrica foi iniciada em 1976) o litoral voltou a conhecer certas melhorias infra-estruturais e desenvolvimento social”.

Mesmo coma queda do prestígio de Vila do Riacho, um filho local, Pedro de Araújo Leal, foi prefeito de Aracruz de 1955 a 1958 e de 1963 a 1966, embora não exercendo todo este segundo mandato. De lá também saíram os vereadores Édson Chagas Filho (1993-1996) e Marlene Souza do Nascimento (1993-1996 e 1997-2000).

ARISTIDES ARMINIO GUARANÁ - Nasceu em Laranjeiras (Sergipe) em 25/12/1843, filho de Leopoldo José Martins Guaraná e Ursulina Francisca dos Santos Guaraná. Começou seus estudos na Bahia e continuou em seu estado-natal, de onde foi para o Rio de Janeiro, em 1859, para ingressar como cadete na Escola Militar.

Quando começou a Guerra do Paraguai (11/12/1864), ele estudava “tirocínio de armas e engenharia”, indo imediatamente para o fronte. Foi ferido várias vezes e perdeu o braço direito na batalha de Lomas Valentinas (21/12/1868), mas também recebeu inúmeras condecorações, citações em ordens do dia e promoções. Ao fim da guerra (1/3/1870) já era coronel, mas foi logo promovido a general.

Devido à nova patente, passou a ser conhecido como “General Guaraná”, mas já era apelidado de “Engenheiro Guaraná”, pois já exercia esta profissão até antes da guerra, quando era apenas um estudante. Mas o apelido mais difundido era mesmo o de “Caboclo Guaraná”, utilizado por amigos e contemporâneos.

Foi depois da guerra que ele se bacharelou em Matemática e Ciências Físicas e Naturais e concluiu seu curso de Engenharia Civil. Trabalhou como engenheiro da Estrada de Ferro Dom Pedro II (hoje Central do Brasil) e, também como engenheiro, à disposição das Províncias de Sergipe e Espírito Santo.

O Caboclo Guaraná também atuou em diversas outras áreas, como o jornalismo e a política, sendo até eleito deputado provincial duas vezes (1880-81 e 1882-83). Falava fluentemente francês, espanhol, italiano e guarani.

Capixaba

Aristides Guaraná veio para o Espírito Santo por ter sido nomeado, em 7 de setembro de 1877, diretor da Colônia de Santa Leopoldina, que então abrangia os hoje município de Aracruz e Ibiraçu, região por que tinha muito carinho.

Aqui, seu maior empenho sempre foi pela implantação de novas povoações, para o que contava com o apoio dos imigrantes italianos. Um dos mais destacados núcleos criados por ele foi o que batizou de Conde d’Eu (hoje Ibiraçu), em homenagem ao marido da Princesa Isabel e seu companheiro de armas na Guerra do Paraguai. Quando o lugar ganhou foros de vila, recebeu o nome de seu criador: Vila de Guaraná.

Em 1879, o Caboclo Guaraná casou com Duverlina Gabrielli, filha do imigrante italiano Eduardo Gabrielli, que se tornou grande fazendeiro na região e foi o primeiro intendente do município de Guaraná (Ibiraçu), quando se separou do de Santa Cruz (Aracruz), em 11/9/1891. Aristides Guaraná e Duverlina tiveram quatro filhos e quatro filhas.

Por volta de junho de 1880, o General Guaraná passou o cargo de diretor da Colônia de Santa Leopoldina ao engenheiro Luís Cavalcanti de Campos Melo, para montar o “Engenho Central Guaraná”, de fabricação de açúcar, na Fazenda das Palmas, em Córrego Fundo, às margens do Rio Piraqueaçu.

As terras tinham sido adquiridas de seu sogro, que por sua vez, as tinha comprado de Pietro Tabacchi. O local era passagem obrigatória dos italianos que chegavam de seu país e Guaraná encontrou muitos deles, inclusive de expedições anteriores, vivendo pessimamente. Ofereceu-lhes melhores condições de vida e sobrevivência, como trabalhadores de sua indústria.

Como o projeto de indústria de açúcar não deu o resultado esperado, em 1912, após hipotecar a Fazenda das Palmas, Guaraná transferiu residência para o Rio de janeiro, até porque era mais apropriado para a educação dos filhos.

Ele tinha recebido convite para administrar o Cartório de Protesto de Letras, sendo nomeado “serventuário vitalício” pelo Marechal Deodoro da Fonseca (proclamador da República Brasileira em 15/11/1889), ao lado de quem também tinha combatido no Paraguai.

E foi no Rio de Janeiro que o notável herói brasileiro aracruzense faleceu, em 28 de dezembro de 1927.

Macacos

Guaraná instalou a residência de sua família a dois quilômetros do local onde ficava o Engenho Central, no local denominado Cachoeira do Barro, tudo dentro do perímetro da Fazenda das Palmas.

Como foi encarregado de instalar a linha telegráfica, ia constantemente ao local conhecido como Ribeirão (hoje Vila de Guaraná, em sua homenagem), onde ficava o barracão de seus operários.

Pelo itinerário que utilizava, passava sempre pelo local onde hoje fica a sede do Município de Aracruz (Cidade de Aracruz), que naquele tempo, era mais fechada. Conta-se que era atraído pela algazarra que faziam muitos macacos de grande porte, que tinham seu ninho na região. Pelo tamanho dos bichos, batizou o local da Sauaçu (em tupi-guarani: macaco grande).

As histórias que contava sobre os macacos atraíram a atenção de muitos dos trabalhadores de Córrego Fundo, principalmente imigrantes italianos, movidos pela curiosidade de conhecer tal bicho (macaco), não existente em seu país de origem.

Progressivamente, os curiosos foram construindo casas e instalando suas famílias na região do ninho dos tais macacos. Foram os primeiros movimentos de seres humanos no local onde hoje está a Cidade de Aracruz, sede do Município de Aracruz.

“Gigantesca” fábrica de açúcar

Guaraná montou um dos maiores empreendimentos industriais já registrados na história do Espírito Santo, com o objetivo de fabricar açúcar para abastecer até mesmo o mercado externo. Pelos registros existentes, se pode deduzir que o engenho, montado sob encomenda na França, deve ter começado a funcionar no segundo semestre de 1891 e falido por volta de 1910.

Uma detalhada descrição do projeto foi feita pelo padre Otávio das Chagas, secretário do bispo Dom João Batista Correa Nery, durante uma viagem pastoral à região, em 16 de junho de 1900:

“(...) Francamente, não pensávamos que houvesse, por estas alturas, um homem bastante corajoso para levar a cabo uma Empresa tão gigantesca.

Ao entrarmos no ranchão das máquinas, grande foi a impressão que sentimos. Imagine-se qual não seria, se o vapor, enchendo centenares de tubos, imprimisse movimento àquelas enormes rodas e complicada correagem, no meio da azáfama de 103 empregados!

Sinto que as ligeiras e deficientes notas que coligi não possam dar sequer uma idéia do que seja esse estabelecimento industrial, primeiro no Espírito Santo e que sem dúvida não encontra muitos competidores nos outros estados do Brasil.

A primeira coisa que vê o visitante, logo à entrada, é uma comprida esteira de taboas, dispostas horizontalmente e encaixadas nos elos de duas grandes correntes.

Esta esteira se prolonga para fora da casa e nela se deposita a cana que até aí é conduzida dos canaviais em vagonetes.

Estando a esteira em movimento como de correia, conduz logo a cana para uma moenda de oito cilindros, onde se extrai todo o caldo, que é logo chupado por uma bomba, subindo por grosso tubo até os 3 defecadores, de 26 hectolitros de capacidade cada um.

Aí recebe o caldo a primeira purificação, por meio de serpentina de vapor, descendo a clarificar-se em 2 grandes filtros.

Dos filtros sobe de novo para os três aparelhos chamados de tríplice efeito, onde se reduz a xarope.

Estes aparelhos apresentam a forma de três enormes garrafas de pé e postas em linha e têm 200 metros quadrados de superfície de evaporação.

O aparelho seguinte é o cozinhador no vácuo, de forma de um gigantesco garrafão e com capacidade para 9 toneladas de massa cozida. Aí se cristaliza o xarope, passando para o mexedor, que consta de 8 grandes depósitos.

5 turbinas, enfim, apuram o açúcar, que vai classificado para os diferentes depósitos.

A produção diária é de 200 a 300 sacos de açúcar cristalizado.

Há um depósito que comporta 30.000 sacos.

A parte azeda da cana passa para a destilaria, em uma casa à parte. Só se acha montando por enquanto um alambique ‘ALEGRIA’, com capacidade de 6 pipas de aguardente.

O vapor que movimenta todos estes aparelhos é fornecido por três caldeiras tubulares, de 80 tubos cada uma, com cinco atmosferas de vapor e força total de 375 cavalos.

É ainda digna de nota a bomba hidráulica que conduz uma coluna d’água de 20 centímetros de grossura, acumulando na caixa 2 metros cúbicos por minuto.

Está tudo disposto para que se possa trabalhar mesmo de noite, á claridade de 60 lâmpadas de luz elétrica.

É diretor do Engenho o Sr. Francisco Janotta, hábil mecânico austríaco.

O nome dos fabricantes de todos os aparelhos consta da seguinte inscrição que se lê numa das faces da grande chaminé de 30 metros de altura, gravada em uma chapa de ferro: ‘Engenho Central – fundado pelo Coronel Dr. Guaraná – BRISSONEAU DÉROUALLE & ALSE LUTZ – Construtores, Nantes, França, Ano 1890 – 1891’.

Já sobe a 1.200 contos a quantia dispendida na montagem do Engenho. É de se esperar que breve comece o laborioso Sr. Coronel Guaraná a tirar o desejado fruto do grande capital empregado.

Depois de termos tudo examinado, procedeu o Bispo à benção do estabelecimento, finda a qual foram o Sr. Coronel e seus filhos muito cumprimentados pelos assistentes (...)”.

 

 

 

 

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