Uma nova historia
O material para o presente trabalho foi colhido através das visitas que fiz às regiões do Estado do Espírito Santo, onde residem as pessoas integrantes da Família Fracalossi. Teria sido impossível, nesse espaço de tempo, apossar-me de tantos dados, se não tivesse encontrado pôr toda parte, a maior boa vontade. Só em poucos casos foi possível lançar mão da literatura existente sobre o destino dos imigrantes da Família Fracalossi no Espírito Santo, pois ela, em sua maior parte, diz respeito às condições gerais da imigração no Estado. Ela é constituída principalmente de publicações de pesquisadores independentes, que me foi possível utilizar graças ao advento da Internet e as publicações da Estação Capixaba.com.br de textos destes pesquisadores. A primeira edição desta pesquisa constitui o documento mais importante sobre a história da formação das famílias dos descendentes de Giovanni Fracalossi e Giudita Tafner Fracalossi. Muito dos dados, realmente de valor sobre os locais onde possivelmente encontraria descendentes, me foi passado pôr "Tio Joanin Fracalossi", pessoa de invejável memória. Os primeiros membros da Família Fracalossi, aqui pesquisados, emigraram da Itália para o Espírito Santo no final do ano de 1875, mais precisamente embarcaram no "VAPOR FÉNELON" no porto de Havre na França em novembro e aqui chegando em 25 de dezembro do ano de 1875.
A origem da Vila do Riacho se situa em 1800, quando foi instalado um quartel na confluência dos Rio Riacho e Comboios, pelo Capitão-mor Antônio Pires da Silva. Como outro quartel às margens de outros rios do Brasil de então o Quartel de Riacho serviu para repelir os ataques dos índios botocudos a viajantes, índios civilizados, comboios e boiadas que tinham que passar por ali. Para os botocudos, o local era uma espécie de sentinela avançada de seu território do interior e norte do Espírito Santo, Minas Gerais e sul da Bahia.
Menos de uma década depois, Quartel de Riacho já mostrava um franco crescimento, pois sua guarnição tinha sido reforçada em função da carta régia de declaração de guerra aos botocudos O documento saiu em 1808, logo que a família do príncipe regente de Portugal, Dom João VI, veio para o Brasil, fugindo da perseguição do imperador da França, Napoleão Bonaparte.
Quartel de Riacho foi visitado pelo príncipe alemão Neuwied em 1815 e pelo botânico francês Auguste de Saint-Hilaire em 1818, que atestaram que ainda era forte a presença militar. Mas, por volta de 1828, o local já era conhecido nas redondezas como Campos do Riacho.
As terras férteis de Campos do Riacho atraíram muitos fazendeiros e a migração aumentou mais ainda quando a região passou a pertencer ao município de Santa Cruz (Aracruz a partir de 1943), criado em 3/4/1848. Italianos recém-chegados de seu país começaram a aparecer por volta de 1874.
Progresso
Em 1858, foi criada a primeira escola, pela Lei Provincial (equivalente às leis estaduais de hoje) nº 321. Em 1864, outra Lei Provincial, de nº 25, criou a freguesia de São Benedito do Riacho. A igreja, ainda existente, seria construída pouco depois.
Um levantamento feito em 1876 mostrou que Campos de Riacho já registrava 1.003 moradores, 6,5 % dos quais eram negros escravos. Também mostrou 179 alunos freqüentando a escola e um índice de alfabetização (11,7% da população) quase duas vezes maior que o da sede do município, Santa Cruz (6,4%).
A comparação entre os dois povoados é levada ainda mais adiante pelo historiador barrense José Maria Coutinho: “O crescimento de Campos do Riacho nos 76 anos após sua fundação era maior do que o de Santa Cruz experimentara nos três primeiros séculos de sua existência. A maioria dos trabalhadores de Riacho estava na agricultura do açúcar, milho, feijão, mandioca, etc., enquanto que o número de criadores de gado quase suplantava o de Santa Cruz. Os engenhos fabricavam açúcar, aguardente, rapadura e mel. O comércio dos mais diversos gêneros era ativo. Havia cerca de 508 casas em Santa Cruz e 136 em Riacho.”
Em 25/1/1891, foi criado o Município de Riacho, com sede em Campos do Riacho, abrangendo os territórios dos Distritos de Riacho e Ribeirão da Linha (hoje Distritos de Guaraná e Jacupemba). Mas o município só durou até 16/5/1931, quando foi reintegrado ao de Santa Cruz.
Dentro do que se pôde apurar, consta que o último prefeito do município foi Philareto Carlos Loureiro e que seu antecessor, de 14/4/26 a 2/5/30, foi Dalmácio Coutinho. As duas últimas Câmaras Municipais foram:
1924-1927
Antônio de Mattos Pimentel
Antônio Nunes Gonçalves
Ernesto Rosário do Nascimento
Herculano dos Santos Leal
Joaquim Ribeiro Pinto Machado
1928-1931
Belmiro Manoel de Carvalho
Ernesto Rosário do Nascimento
Herculano dos Santos Leal
Joaquim Ribeiro Pinto Machado
Philareto Carlos Loureiro
Decadência
Pelo menos três fatores foram decisivos para o enfraquecimento de Vila do Riacho (atual nome de Campos do Riacho): o crescimento do povoado que ficaria conhecido como Barra do Riacho, cerca de 11 quilômetros ao sul, na foz do Rio Riacho; o desenvolvimento da atividade agropecuária no noroeste do município, destacando-se Guaraná e Jacupemba; a transferência da sede municipal de Santa Cruz para o povoado de Sauaçu, regulamentada em 1948 e concretizada em 1950 (o município mudou de nome para Aracruz em, 1943).
Pela década de 50, segundo José Maria Coutinho, a orla litorânea – não só Vila do Riacho, como se vê – pouco a pouco foi abandonado pelos administradores municipais, entrando assim em decadência, enquanto o interior progredia.
“O progresso das Vilas de Aracruz, Guaraná e Jacupemba tornou-as mais importantes que as do Riacho, Barra do Riacho e Santa Cruz, ultrapassando sua arrecadação e produção econômica, com o café, o gado e o leite, principalmente. E uma estrada (a BR 101) as colocava no meio do caminho entre o sul e o norte do país”, detalha Coutinho, para completar: “Só com a chegada da Aracruz Celulose (a construção da fábrica foi iniciada em 1976) o litoral voltou a conhecer certas melhorias infra-estruturais e desenvolvimento social”.
Mesmo coma queda do prestígio de Vila do Riacho, um filho local, Pedro de Araújo Leal, foi prefeito de Aracruz de 1955 a 1958 e de 1963 a 1966, embora não exercendo todo este segundo mandato. De lá também saíram os vereadores Édson Chagas Filho (1993-1996) e Marlene Souza do Nascimento (1993-1996 e 1997-2000).
ARISTIDES ARMINIO GUARANÁ - Nasceu em Laranjeiras (Sergipe) em 25/12/1843, filho de Leopoldo José Martins Guaraná e Ursulina Francisca dos Santos Guaraná. Começou seus estudos na Bahia e continuou em seu estado-natal, de onde foi para o Rio de Janeiro, em 1859, para ingressar como cadete na Escola Militar.
Quando começou a Guerra do Paraguai (11/12/1864), ele estudava “tirocínio de armas e engenharia”, indo imediatamente para o fronte. Foi ferido várias vezes e perdeu o braço direito na batalha de Lomas Valentinas (21/12/1868), mas também recebeu inúmeras condecorações, citações em ordens do dia e promoções. Ao fim da guerra (1/3/1870) já era coronel, mas foi logo promovido a general.
Devido à nova patente, passou a ser conhecido como “General Guaraná”, mas já era apelidado de “Engenheiro Guaraná”, pois já exercia esta profissão até antes da guerra, quando era apenas um estudante. Mas o apelido mais difundido era mesmo o de “Caboclo Guaraná”, utilizado por amigos e contemporâneos.
Foi depois da guerra que ele se bacharelou em Matemática e Ciências Físicas e Naturais e concluiu seu curso de Engenharia Civil. Trabalhou como engenheiro da Estrada de Ferro Dom Pedro II (hoje Central do Brasil) e, também como engenheiro, à disposição das Províncias de Sergipe e Espírito Santo.
O Caboclo Guaraná também atuou em diversas outras áreas, como o jornalismo e a política, sendo até eleito deputado provincial duas vezes (1880-81 e 1882-83). Falava fluentemente francês, espanhol, italiano e guarani.
Capixaba
Aristides Guaraná veio para o Espírito Santo por ter sido nomeado, em 7 de setembro de 1877, diretor da Colônia de Santa Leopoldina, que então abrangia os hoje município de Aracruz e Ibiraçu, região por que tinha muito carinho.
Aqui, seu maior empenho sempre foi pela implantação de novas povoações, para o que contava com o apoio dos imigrantes italianos. Um dos mais destacados núcleos criados por ele foi o que batizou de Conde d’Eu (hoje Ibiraçu), em homenagem ao marido da Princesa Isabel e seu companheiro de armas na Guerra do Paraguai. Quando o lugar ganhou foros de vila, recebeu o nome de seu criador: Vila de Guaraná.
Em 1879, o Caboclo Guaraná casou com Duverlina Gabrielli, filha do imigrante italiano Eduardo Gabrielli, que se tornou grande fazendeiro na região e foi o primeiro intendente do município de Guaraná (Ibiraçu), quando se separou do de Santa Cruz (Aracruz), em 11/9/1891. Aristides Guaraná e Duverlina tiveram quatro filhos e quatro filhas.
Por volta de junho de 1880, o General Guaraná passou o cargo de diretor da Colônia de Santa Leopoldina ao engenheiro Luís Cavalcanti de Campos Melo, para montar o “Engenho Central Guaraná”, de fabricação de açúcar, na Fazenda das Palmas, em Córrego Fundo, às margens do Rio Piraqueaçu.
As terras tinham sido adquiridas de seu sogro, que por sua vez, as tinha comprado de Pietro Tabacchi. O local era passagem obrigatória dos italianos que chegavam de seu país e Guaraná encontrou muitos deles, inclusive de expedições anteriores, vivendo pessimamente. Ofereceu-lhes melhores condições de vida e sobrevivência, como trabalhadores de sua indústria.
Como o projeto de indústria de açúcar não deu o resultado esperado, em 1912, após hipotecar a Fazenda das Palmas, Guaraná transferiu residência para o Rio de janeiro, até porque era mais apropriado para a educação dos filhos.
Ele tinha recebido convite para administrar o Cartório de Protesto de Letras, sendo nomeado “serventuário vitalício” pelo Marechal Deodoro da Fonseca (proclamador da República Brasileira em 15/11/1889), ao lado de quem também tinha combatido no Paraguai.
E foi no Rio de Janeiro que o notável herói brasileiro aracruzense faleceu, em 28 de dezembro de 1927.
Macacos
Guaraná instalou a residência de sua família a dois quilômetros do local onde ficava o Engenho Central, no local denominado Cachoeira do Barro, tudo dentro do perímetro da Fazenda das Palmas.
Como foi encarregado de instalar a linha telegráfica, ia constantemente ao local conhecido como Ribeirão (hoje Vila de Guaraná, em sua homenagem), onde ficava o barracão de seus operários.
Pelo itinerário que utilizava, passava sempre pelo local onde hoje fica a sede do Município de Aracruz (Cidade de Aracruz), que naquele tempo, era mais fechada. Conta-se que era atraído pela algazarra que faziam muitos macacos de grande porte, que tinham seu ninho na região. Pelo tamanho dos bichos, batizou o local da Sauaçu (em tupi-guarani: macaco grande).
As histórias que contava sobre os macacos atraíram a atenção de muitos dos trabalhadores de Córrego Fundo, principalmente imigrantes italianos, movidos pela curiosidade de conhecer tal bicho (macaco), não existente em seu país de origem.
Progressivamente, os curiosos foram construindo casas e instalando suas famílias na região do ninho dos tais macacos. Foram os primeiros movimentos de seres humanos no local onde hoje está a Cidade de Aracruz, sede do Município de Aracruz.
“Gigantesca” fábrica de açúcar
Guaraná montou um dos maiores empreendimentos industriais já registrados na história do Espírito Santo, com o objetivo de fabricar açúcar para abastecer até mesmo o mercado externo. Pelos registros existentes, se pode deduzir que o engenho, montado sob encomenda na França, deve ter começado a funcionar no segundo semestre de 1891 e falido por volta de 1910.
Uma detalhada descrição do projeto foi feita pelo padre Otávio das Chagas, secretário do bispo Dom João Batista Correa Nery, durante uma viagem pastoral à região, em 16 de junho de 1900:
“(...) Francamente, não pensávamos que houvesse, por estas alturas, um homem bastante corajoso para levar a cabo uma Empresa tão gigantesca.
Ao entrarmos no ranchão das máquinas, grande foi a impressão que sentimos. Imagine-se qual não seria, se o vapor, enchendo centenares de tubos, imprimisse movimento àquelas enormes rodas e complicada correagem, no meio da azáfama de 103 empregados!
Sinto que as ligeiras e deficientes notas que coligi não possam dar sequer uma idéia do que seja esse estabelecimento industrial, primeiro no Espírito Santo e que sem dúvida não encontra muitos competidores nos outros estados do Brasil.
A primeira coisa que vê o visitante, logo à entrada, é uma comprida esteira de taboas, dispostas horizontalmente e encaixadas nos elos de duas grandes correntes.
Esta esteira se prolonga para fora da casa e nela se deposita a cana que até aí é conduzida dos canaviais em vagonetes.
Estando a esteira em movimento como de correia, conduz logo a cana para uma moenda de oito cilindros, onde se extrai todo o caldo, que é logo chupado por uma bomba, subindo por grosso tubo até os 3 defecadores, de 26 hectolitros de capacidade cada um.
Aí recebe o caldo a primeira purificação, por meio de serpentina de vapor, descendo a clarificar-se em 2 grandes filtros.
Dos filtros sobe de novo para os três aparelhos chamados de tríplice efeito, onde se reduz a xarope.
Estes aparelhos apresentam a forma de três enormes garrafas de pé e postas em linha e têm 200 metros quadrados de superfície de evaporação.
O aparelho seguinte é o cozinhador no vácuo, de forma de um gigantesco garrafão e com capacidade para 9 toneladas de massa cozida. Aí se cristaliza o xarope, passando para o mexedor, que consta de 8 grandes depósitos.
5 turbinas, enfim, apuram o açúcar, que vai classificado para os diferentes depósitos.
A produção diária é de 200 a 300 sacos de açúcar cristalizado.
Há um depósito que comporta 30.000 sacos.
A parte azeda da cana passa para a destilaria, em uma casa à parte. Só se acha montando por enquanto um alambique ‘ALEGRIA’, com capacidade de 6 pipas de aguardente.
O vapor que movimenta todos estes aparelhos é fornecido por três caldeiras tubulares, de 80 tubos cada uma, com cinco atmosferas de vapor e força total de 375 cavalos.
É ainda digna de nota a bomba hidráulica que conduz uma coluna d’água de 20 centímetros de grossura, acumulando na caixa 2 metros cúbicos por minuto.
Está tudo disposto para que se possa trabalhar mesmo de noite, á claridade de 60 lâmpadas de luz elétrica.
É diretor do Engenho o Sr. Francisco Janotta, hábil mecânico austríaco.
O nome dos fabricantes de todos os aparelhos consta da seguinte inscrição que se lê numa das faces da grande chaminé de 30 metros de altura, gravada em uma chapa de ferro: ‘Engenho Central – fundado pelo Coronel Dr. Guaraná – BRISSONEAU DÉROUALLE & ALSE LUTZ – Construtores, Nantes, França, Ano 1890 – 1891’.
Já sobe a 1.200 contos a quantia dispendida na montagem do Engenho. É de se esperar que breve comece o laborioso Sr. Coronel Guaraná a tirar o desejado fruto do grande capital empregado.
Depois de termos tudo examinado, procedeu o Bispo à benção do estabelecimento, finda a qual foram o Sr. Coronel e seus filhos muito cumprimentados pelos assistentes (...)”.